Vida Nascido e criado na cidade mineira de Itabira, Carlos Drummond de Andrade levaria por toda a sua vida, como um de seus mais recorrentes temas, a saudade da infância. Precisou deixar para trás sua cidade natal ao partir para estudar em Friburgo e Belo Horizonte.
Formou-se em Farmácia, atendendo a insistência da família em graduar-se. Trabalha em Belo Horizonte como redator em jornais locais até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1934, para atuar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então nomeado novo Ministro da Educação e Saúde Pública.
Em 1930, seu livro "Alguma Poesia" foi o marco da segunda fase do Modernismo brasileiro. O autor demonstrava grande amadurecimento e reafirmava sua distância dos tradicionalistas com o uso da linguagem coloquial, que já começava a ser aceita pelos leitores.
Drummond também falava sobre temas como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas da época, como em “A Rosa do Povo” (1945). Apesar de serem temas fortes, ele conseguia encontrar leveza para manter sua escrita com humor e uma sóbria ironia.
Produzindo até o fim da vida, Carlos Drummond de Andrade deixou uma vasta obra. Quando faleceu, em agosto de 1987, já havia destacado seu nome na literatura mundial. Com seus mais de 80 anos, considerava-se um "sobrevivente", como destaca no poema "Declaração de juízo".
Alguns Livros |
QUANDO É DIA DE FUTEBOL, Eu sei que futebol é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro dia a gente perde, mas por que é que, Quando a gente ganha, ninguém se Lembra de que futebol é assim mesmo?
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CRIANÇA DAGORA É FOGO!, “A Senhora subiu, Deus sabe como, em companhia de dois garotos. Cada garoto com sua merendeira e sua pasta de livros e cadernos indispensáveis para a aquisição das preliminares da sabedoria. (Quando chegarem ao ensino médio, terão de carregar uma papelaria e uma biblioteca?)” (trecho retirado do livro “Criança dagora é fogo!”) Pequeno volume que integra a coleção Verso na prosa/Prosa no verso direcionado para o público infantil. Traz quatro textos curtos escritos em prosa cujos temas são centrados no universo do cotidiano. |
Alguns Poemas
QUANDO É DIA DE FUTEBOL | Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma. A bola é a mesma: forma sacra para craques e pernas-de-pau. Mesma volúpia de chutar na delirante copa-mundo ou no árido espaço do morro. São vôos de estátuas súbitas, desenhos feéricos, bailados de pés e troncos entraçados. Instantes lúdicos: flutua O jogador, gravado no ar - afinal, o corpo trinufante da triste lei da gravidade.
Não se mate
Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se.Não se mate, oh não se mate, reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe quando virão,se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você, e os recalques se sublimando, lá dentro um barulho inefável, rezas, vitrolas, santos que se persignam, anúncios do melhor sabão, barulho que ninguém sabe de quê, praquê.
Entretanto você caminha melancólico e vertical. Você é a palmeira, você é o grito que ninguém ouviu no teatro e as luzes todas se apagam.O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste, meu filho, Carlos, mas não diga nada a ninguém, ninguem sabe nem saberá.
Infância A Abgar Renault
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras Lia a história de Robinson Crusoé. Comprida história que não acabava mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala e nunca se esqueceu chamava para o café Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robson Crusoé.
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